Você já parou para refletir em que momento estamos na História do Setor de Eventos? Desde a origem da humanidade, os eventos têm sido parte essencial da organização social, começando pelos primeiros rituais religiosos, passando pelos cerimoniais e protocolos de povos antigos, pelas Olimpíadas de Atenas e chegando até a primeira missa no Brasil, entre outros. Esses exemplos históricos mostram que, embora as estruturas não fossem idênticas às de hoje, já existia um senso de organização, figuras essenciais responsáveis por cada detalhe, e um propósito coletivo.
Metaforicamente, podemos imaginar que o “Setor de Eventos” também passou por eras distintas. Pense na era paleolítica dos eventos, quando a organização era crua, quase instintiva, e os recursos eram limitados e orgânicos. Os primeiros profissionais desbravavam esse território inóspito com intuição, construindo suas carreiras em um ambiente pouco estruturado. Aos poucos, o setor evoluiu para algo mais sofisticado, como o período neolítico, em que as regras, as etiquetas e as metodologias de gestão começaram a ser incorporadas. Com a chegada de ferramentas de outras áreas do conhecimento, como Turismo e Relações Públicas, e o surgimento de eventos organizados, como feiras e festivais, o setor se consolidou, além da introdução da graduação em Eventos no Brasil que simbolizou novos passos no marco evolutivo.
A ruptura de 2020, trazida pela pandemia global da COVID-19, nos lançou em uma nova era, marcada por uma brusca desaceleração e exposição de uma das maiores vulnerabilidades do setor: a informalidade. Seria esse o momento da transição para a era contemporânea? Os holofotes sobre as nossas mais severas necessidades foram acesos, expondo toda a complexidade e fragmentação do setor. Diversas entidades de diferentes níveis de representação manifestaram suas dores, e fomos levados a um novo patamar de reflexão sobre o que significa trabalhar com eventos.
É inevitável que, diante de tanta complexidade e das diversas narrativas que emergem sobre o mesmo objeto, além do uso dos eventos como ferramenta por outras áreas, seja desafiador compreender a verdadeira essência e a genealogia dos eventos. É fundamental identificar com clareza seus campos de atuação e distinguir tipologias das áreas de interesse. Por exemplo, compreender que um show é uma tipologia, enquanto Marketing, Turismo, Cultura, entre outros, são áreas de interesse que interagem com essas tipologias. Podemos nos aprofundar nisso em um próximo artigo. O ponto central é que precisamos colocar o substantivo ‘Eventos’ (aqui entendido como um acontecimento planejado) como protagonista de sua própria narrativa e, quem sabe, elevar esses saberes ao patamar de ciência.
Como Paulo Freire sabiamente afirmou: ‘Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.’
O conhecimento sobre eventos é plural e multidisciplinar, e é fundamental reconhecer e valorizar essas múltiplas perspectivas para construir um setor mais sólido, claro e coeso.
As variáveis que envolvem o entendimento do setor de eventos são vastas e complexas. Vivemos em uma era em que é essencial distinguir entre quem é profissional da área e quem apenas atua pontualmente nela. Há uma diferença clara entre aqueles que produzem, organizam, planejam e coordenam eventos, e aqueles que prestam serviços de outros segmentos para um evento, como garçons que atendem em festas, arquitetos responsáveis pela concepção de palcos, ou técnicos de segurança do trabalho que asseguram o cumprimento das normas regulamentadoras durante as montagens. O universo dos eventos permeia constantemente diferentes níveis e esferas de atuação em diversos setores, exigindo uma compreensão profunda de suas intersecções e dinâmicas.
Reconhecemos a necessidade de oficializar a profissão do ato de “Produzir Eventos” (e, claro, valorizar aqueles que se dedicam a estudar a área) e compreender profundamente todas as demandas que o setor envolve. Existem ainda muitos pontos que precisam ser estudados com maior profundidade.
Embora frequentemente eu mescle o setor de eventos com o profissional que nele atua, é impossível dissociá-los completamente. O importante, porém, é que essa busca pelo reconhecimento e compreensão do setor siga uma cadência lógica, com uma estrutura similar a de outras profissões formalmente reconhecidas, respeitando as particularidades das diferentes modalidades e tipologias.
Estamos, portanto, em uma era em que é imperativo legitimar a identidade profissional dos eventólogos e produtores de eventos e definir parâmetros claros para o setor.
À medida que avançamos nessa era contemporânea, o setor de eventos se encontra em uma encruzilhada. Por um lado, há o reconhecimento de que os eventos são uma força motriz de impacto econômico, social e cultural. Por outro, ainda lidamos com a falta de estrutura formal e reconhecimento profissional. A transformação que buscamos não é apenas sobre adaptar-se a novas tecnologias ou tendências, mas sim sobre uma mudança de mentalidade – um verdadeiro “renascimento” do setor, onde o conhecimento profundo, o estudo acadêmico e a prática se alinham para elevar a profissão de eventólogo a novos patamares.
Devemos enxergar essa era como uma oportunidade única de reconstruir o setor com bases sólidas, alicerçadas na educação continuada e na valorização da expertise profissional. O futuro dos eventos será moldado pela nossa capacidade de aprender com o passado, inovar no presente e criar uma visão coletiva e estratégica para o que está por vir. É chegado o momento de nos tornarmos verdadeiros “arquitetos” dessa nova era, em que ‘Eventos’ ganha o protagonismo que sempre mereceu, sendo potencializado pelos esclarecimentos necessários sobre sua essência e importância.
Mas não basta apenas entender a profissão e suas nuances; precisamos dar um passo além. É fundamental que mudemos nossa ótica e comecemos a enxergar ‘Eventos’ como o ator principal de sua própria narrativa, e não apenas como uma atividade periférica vinculada a outros setores. Os eventos são centrais em inúmeras transformações sociais, históricas, econômicas e culturais. Particularmente, não consigo limitar ‘Eventos’ apenas ao Turismo ou à Cultura, pois sua natureza é única e orbital, transcendendo qualquer categoria isolada.
Embora o mercado quase sempre enquadre eventos no Turismo, considero essa visão ultrapassada. Para mim, eventos têm uma abrangência maior. No entanto, reconheço que as estruturas legais vigentes são difíceis de alterar, tornando essa mudança quase inviável. Essa é apenas uma ótica mais aprofundada. Vale, no entanto, trazer futuramente um estudo mais completo sobre o assunto.
E é nesse cenário que o neologismo que idealizo há anos, ‘Eventologia’, assume sua posição de destaque, consolidando-se como o campo de estudo capaz de elevar os eventos a um patamar científico e cultural, finalmente reconhecendo sua complexidade e seu valor essencial na sociedade.
Se reconhecemos que ‘Eventos’ possui uma abrangência tão vasta e impacta tantas áreas, será que estamos realmente preparados para repensar e reestruturar o saber, atribuindo a ele o protagonismo e o reconhecimento que merece? O protagonismo de eventos não nos encaminharia para um melhor enquadramento da nossa identidade profissional?
Pensar e repensar para abrir um campo de possibilidades, onde deixaremos de ser apenas uma prática e se tornar uma força transformadora em diversas esferas.